A Procissão
Vislumbro, da janela do meu quarto,
Toda uma rua a palpitar de gente.
É de dia de festejos hoje,
Os risos inundam os passeios.
Saio de casa, revigorada pela alegria
E caminho até à beira-mar,
Onde defronte das rulotes,
Há filas intermináveis,
Tumultos incessantes.
Na berma da estrada,
Vê-se uma multidão de pessoas,
Que se estende por ali fora
Assinalando o seu lugar
Para dali verem a procissão.
Subitamente, entreouve-se!
Entreouve-se um bater consistente,
Rítmico e distinto.
São os tambores!
O corredor de gente errante
Aproxima-se e a população,
Expectante, inspira e sustém o ar nos pulmões.
Os cascos dos cavalos discernem-se
Da música dos tambores.
Os mais melindrosos acanham-se
E dão a vez aos mais corajosos,
Que avançam e se colocam de frente
Aos animais apavorados.
Vê-se então uma amálgama de gente
Mais nova, que caminha suavemente.
O olhar sempre em frente,
Apenas desviando-se quando
Descortina alguém conhecido.
Todos os anos, a festividade se repete.
E a população, mais por hábito,
Do que por outro motivo qualquer,
Volta a sair à rua para celebrar.
Eu, à força de não celebrar coisa nenhuma,
Contemplo este quadro da vida humana.
Aprecio as cores vivas e distintas
Que incendeiam o meu campo de visão.
Reflito enquanto deambulo pela cidade
Que não há dia que me deixe mais melancólica
Que este de festividade popular.